segunda-feira, setembro 22, 2003

Blogs

Esta coisa dos blogs agora anda muito na moda, parece que toda a gente se apercebeu que pode complementar o vício da internet com a escrita, e deixar de permanecer imóvel frente a uma sala de chat, para passar a escrever merda num dos milhares de bloggers que por aí andam. É engraçado porque há quem se recuse a escrever num papel ou num livro, mas para teclar estão lá batidos que nem mosca em cagalhão fresco. Para alguns é uma desculpa criada para o uso excessivo da internet:
"Amor, passas tanto tempo na Internet."
"Pois querida, tenho escrito imenso."
Ignorando os sites porno, as newsletters, as salas de chat, os jogos online e os couros no messenger. Não, ele tem escrito imenso.

Outra faceta da coisa é a partilha. Não custa nada escrever e partilhar quando não conhecemos as pessoas que lêem o que escrevemos, ou melhor, quando não temos necessariamente de ouvir críticas e comentários ao que escrevemos. Quando escrevemos num papel não andamos na rua a mostrar a toda a gente. Quer dizer a maioria não.

Já fazem encontros e tudo. Ora, deve ser engraçado ir a um jantar com pessoas que não se conhece de lado nenhum e onde a única coisa em comum é escreverem e usarem a internet. Foda-se, vamos fazer um encontro com a população nacional por inteiro. Pode ser na expo! Aposto que levam uma etiqueta de identificação com o nome e o respectivo url. Aliás, o nome é opcional, eu chegaria e diria "Olá eu sou o demente.blogspot.com, prazer em conhece-los!".

Há blogs para todos os gostos e feitios, mas digo-vos meus caros: há por ai muita merda! Aliás, o pior desta situação toda é o facto de haver muito boa gente que NÃO SABE ESCREVER. Não sabe!
E depois é sempre complicado quando nos pedem uma opinião sobre algo que simplesmente não vale um caralho. "Sim, gostei. Está engraçadito." Quando no fundo nem ao fim chegaste e já estas a fechar a coisa com sintomas de flatulência crónica. (Eu pessoalmente sou um gajo que se peida bastante quando não aprecio alguma coisa. Chegam a recusar ver jogos do Sporting comigo sem a apropriada ventilação)

Mas adiante, é complicado! Quando a Maria decide escrever e nos pede freneticamente para dar uma opinião sobre a puta da ideia surreal que o mundo das fadas é paralelo ao nosso, e de vez em quando se fundem criando uma energia positiva, género a natureza está em todos nós, e os elfos vivem nas árvores mais altas com arvoredo colorido, e o caralho mais velho! Ouve Maria, vai lá pó caralhinho porque isso é falta de sexo! Mas é óbvio que politicamente correcto é dar a impressão que se gostou da obra, que é algo "alternativo" e interessante ao mesmo tempo, caso contrário a Maria entra em depressão e deixa de escrever e consequentemente de cozinhar. Politicamente correcto seria dizer à Maria para se dedicar à faina e possivelmente consultar um psicólogo.

É tudo muito bonito! Escreve-se algo e para nós faz todo o sentido. Mas será que a maioria não percebe que os outros não fazem puto ideia do que estão a ler? Principalmente quando se trata de merdas surreais. Se eu quiser olhar para alguma coisa que não se parece com nada e criar a minha própria ideia começo a ir a exposições de pintura e afins. E depois vamos perguntar ao Manel o que queria ele dizer com "E expludo cada vez que a estrela chamada Cosmos atinge a ravina do meu ser". Mas que raio snifou o Manel? Excesso de soro?

Na poesia existe aquela tendência nata para aplicar palavras grandiosas. Já perdi a conta dos poemas que li sobre o mar, as estrelas e o cosmos, as montanhas e os vulcões. Ninguém vê poemas com comparações a insectos e merdas do género, a cruzares de esquina com súbitas latências na caminhada só porque, a parede mudou de cor. Mas para a grandiosidade, está lá tudo! E depois, para além disso, pensam que as únicas figuras de estilo são a metáfora e a comparação. Metem metáforas em tudo, das mais ariscas e complicadas, como um verdadeiro Indiana Jones da literatura:
"Percebes agora o meu estado de espírito? Entendes-me?"
"Aquela longa-metragem do Manoel de Oliveira poderá ter-me afectado a visão! Escreveste rio de gotículas salgadas?
Não percebi muito bem a mistura de água doce com água salgada. É uma indirecta? OK OK. Vou encher a banheira e vestir a minha tanga fio dental revestida a titânio nas zonas periféricas e com um subtil retoque a pele de leopardo”.

A conclusão lógica será: rio não salgado caralho!

Depois temos a questão dos aproveitadores, como eu. Que usufruem do facto de serem puros idiotas e consequentemente escrever merda mais merda = 2Xmerda (que por vezes ate tem piada mas que é pouco provável ser criticada, pelo menos no sentido literário. Porque de literário isto não tem nada!)

E não custa nada dizer merda.

Quando tudo acabar..
o mundo...
o universo...
a merda persistirá!
E ai, eu serei rei.